terça-feira, 18 de agosto de 2015

A miopia dos que estão confortavelmente acomodados sobre o machismo

Certo dia, visitando uma das páginas feministas que curto no facebook, vi um meme engraçado a respeito da nova propaganda da Bombril onde era mostrado uma reportagem sobre o tema intitulada: “Propaganda da Bombril será investigada por debochar de homens”, logo abaixo, na breve descrição da reportagem seguia:  “Peça publicitária não foge ao padrão machista da publicidade brasileira, que coloca a mulher sempre como única responsável pelas tarefas domésticas...”. Em tom de ironia e brincadeira comentei que eu estaria, ainda nos dias atuais, na luta pela tal “fuga dos padrões machistas”. Pronto. Sem querer acionei o “Modo defesa” de alguns.
Me questiono se as motivações que levam os indivíduos a travarem “batalhas” na rede são mais relevantes que suas defecadas?! Pode até ser que sejam, mas a certeza aparentemente inabalável com a qual disparam suas verdades rígidas, imutáveis, batidas, e todo o bla-bla-bla de pegar a opinião mastigada do fulano e replicar, é tão ofensivo para a inteligência, quanto para a paciência.
Ante o meu comentário despretensioso, um ilustríssimo responde com um texto onde enumera algumas questões do tipo: “Quando a mulher é traída é coitada, e quando o homem é traído é corno”, “Se a mulher apanha é coitada, se o homem apanha é frouxo” e diversas outras coisas que realmente não valem a exposição, mas que no contexto do texto dele tentava forçar uma denotação onde ele, enquanto homem, se sentia hoje “Vítima do feminismo” que em tudo apoia as mulheres e está de prontidão para julgar e condenar os pobres coitados, homens (por algum motivo, um dia depois, ele apagou seu comentário, e não me recordo do seu nome, bem como não me recordo de cor todas as passagens de seu texto).

Ora meus caros, vamos recorrer aos meios “internetêzes”  e pesquisar rapidamente no Google o significado de machismo antes de seguirmos. Ao fazer isso, na tela inicial do Google já é exibida em destaque a seguinte definição:

machismo1
substantivo masculino
1 qualidade, ação ou modos de macho ('ser humano', 'valentão'); macheza.
2 infrm. exagerado senso de orgulho masculino; virilidade agressiva; macheza.
3 comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem.”

Mais abaixo, no site do dicionário Michaelis encontramos a seguinte definição:

machismo1
ma.chis.mo1
sm (Mach, np+ismo) Empiriocriticismo.

machismo2
ma.chis.mo2
sm (macho+ismo) 1 Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo, pois, contrário ao feminismo. 2 pop 
Qualidade, ação ou modos de macho; macheza, machidão.

Pesquisemos agora o significado de feminismo. Em destaque no Google aparece:

feminismo
substantivo masculino
1 doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade.
2 p.met. movimento que milita neste sentido.
3 p.ext. teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos.
4 p.met. atividade organizada em favor dos direitos e interesses das mulheres.
5 interesse do homem pela mulher; atração.
6 med p.us. presença de caracteres femininos no homem.

E também no site do dicionário Michaelis:

feminismo
 
fe.mi.nis.mo 
sm (lat femina+ismo) 1 Sociol Movimento iniciado na Europa com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos políticos e sociais de ambos os sexos. 2Feminilidade. 3 Med Presença de caracteres femininos nos homens.

Note que na definição de machismo dada pelo Michaelis é citado que o machismo é contrário ao feminismo, e para que não fique dúvida, para chover no molhado, e declarar o óbvio, perceba que ser contrário não significa ser o oposto, e sim ser contra, pois o machismo prega a superioridade masculina, enquanto o feminismo luta em prol da equiparação dos direitos dos gêneros, logo, o feminismo também é contrário ao machismo, mas não o oposto, já que não prega a superioridade feminina.
Sabendo disso, de ambas as definições e sua etimologia, posso destacar ainda que em nenhuma das definições apresentadas foi dito que tais comportamentos/ideologias são exclusivamente praticados pelo humano macho ou fêmea, sendo assim não raro nos deparamos com mulheres machistas e homens feministas (um tanto mais raro).
Ao caro ilustríssimo autor do texto em resposta ao meu comentário, fica meu “Sinto muito”, mas você não é “Vítima do feminismo” você é também vítima do machismo.
Ao longo dos anos os homens criaram padrões de comportamentos irreais: Homem não chora, não expressa seus sentimentos, não sofre, não pode ser frouxo, não pode broxar, não pode ter medo ou se sentir inseguro, não pode recusar sexo (pois se é mulher, tem buceta e tá oferecendo, tem que comer), não pode, não pode, não pode, pois homem que é homem se comporta assim, senão é viado, comparável (em sua cabeça animal) as fracas e inferiores mulheres que lhes devem serventia doméstica e sexual.
Esse comportamento que tende a padronizar o que cabe a um homem (ou mulher) ou não, foi extirpando dos homens sua racionalidade, seu potencial de escolha, seu arbítrio, o limitando a seus instintos, tentado mediocremente justificar a descontrole sobre seus desejos. Ao colocar o homem no nível de “animal” o machismo o despe de sua humanidade.
 Desde a educação pecamos no que se refere ao ensino sobre a equidade dos gêneros. As meninas de hoje são educadas para serem tudo o que suas bisavós (não todas obviamente) não foram, inteligentes, críticas, racionais, competentes profissionalmente, independentes financeiramente, competitivas, etc, além de serem capazes de manterem seus próprios lares; Mas vejam só! Esqueceram de avisar aos meninos. Esses por sua vez são criados aos moldes de antigamente. Não é difícil depararmo-nos com um adolescente que replique o discurso de ódio, que apreendeu em casa e no seu convívio em sociedade, contra a mulher que faz o mesmo esporte que ele, ou que é melhor que ele em mecânica, por exemplo, ou que tenha sua sexualidade bem resolvida. Não é preciso ser gênio para saber que sim, há e haverá conflitos a esse respeito. Então, ilustríssimos, antes de tentarem travar batalhas se posicionando como pobres coitados, aprendam a identificar o que é machismo e saiam de suas confortáveis acomodações sobre ele para que possam, como humanos conscientes e observadores, enxergar que ainda que repreensões machistas (que na verdade são só a ponta do iceberg pois o machismo vitimiza mulheres diariamente) partam das mulheres, que oprimidas reproduzem o comportamento do opressor, o feminismo nada colabora com isso. Isso é um problema de cunho machista, contra qual o feminismo luta.




domingo, 22 de fevereiro de 2015

Cheios de Vazio


Entre sorrisos arquitetados, e poses planejadas, entre uma selfie e outra vai sendo construída a imagem do ideal, com sua beleza montada, frases motivacionais e a exposição contínua de todos os corriqueiros eventos do dia-a-dia. Passa-se tanto tempo conectado, fotografando, editando, compartilhando que a essência de diversos momentos da vida é suprimida em detrimento dessa conexão constante e da contínua construção da imagem virtual enquanto o outro - amigos, filhos, companheiros - vão ganhando aos poucos um papel de figuração em fotos, postagens e na vida.
Vamos trocando encontros por reuniões no skype e as valorosas conversas despretensiosas regadas a álcool e exasperações por chats e emoticons. Ahh como é cansativo forjar essa imagem perfeita cuja recompensa exclusiva é um somatório de “likes”! Como é decepcionante encontrar uma figurinha “Cool” e em menos de 15min de conversa descobrir que aquele ser se resume a um inconsciente replicador de conteúdo mastigado via compartilhamento. Como é irritante estar com gente que mesmo nas horas de folga não desconecta, não se integra de fato e se mantém “ali” em corpo mas com a mente e a atenção no grupo do WhatsApp do trabalho.
Passamos a um estado de latência, dormência e por fim insensibilidade. Não ligamos, ou melhor, não percebemos se há gente (de verdade) a nossa volta. Não escutamos quando somos questionados ou quando simplesmente nos cumprimentam com um caloroso “bom dia!”. Não damos importância se a casa está pegando fogo (a não ser que essa possa ser fotografada e compartilhada com uma intragável “Hashtag” #PartiuSeiláoque). Vamos rindo sozinhos, nos descontraindo com memes, e perdendo a hora de pegar o filho na escola...

Em contrapartida nada nos consola. Nada nos preenche. Nada nos completa. Vai se abrindo um buraco no peito, uma fenda na alma, e uma falha no caráter. Não vemos maldade nesse tipo de comportamento, mas não conseguimos explicar a infelicidade decorrente deste. É como a dependência de drogas, só nos identificamos como “zumbis tecnológicos” em casos extremos... Ademais seguimos, solitários, infelizes, desconectados de amigos e família, incapazes de manter um diálogo (cara-a-cara) relevante, insensíveis e virtualmente perfeitos. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

E-readers. Adotá-los ou não? Eis a questão!

Através dos avanços tecnológicos diversas atividades rotineiras foram adaptadas e facilitadas a partir do desenvolvimento de dispositivos que objetivam dinamizar tais atividades. Com os livros não seria diferente. É bastante comum o questionamento referente à relevância dos e-readers e também quanto a preferência de leitura em livros físicos (impressos em papel) e a leitura nesses e-readers, dispositivos eletrônicos que dispensam a impressão e permeiam a leitura das obras no formado digital de forma bastante prática e confortável em praticamente qualquer lugar sem depender do uso de um computador convencional.
Alguns fatos envolvendo esses equipamentos ainda deixam muita gente em dúvida no momento de optar pela utilização dos e-readers. Ainda que muitos estejam adaptados a leitura de arquivos digitais no computador nem sempre está claro o porquê nos e-readers a experiência é diferente ou ainda, dependendo do objetivo particular de cada um, o porquê talvez não sejam a melhor opção. 
Há um “mito” de que os leitores digitais devam ser capazes de ler qualquer tipo de arquivo digital sem que hajam problemas, principalmente livros no formato PDF, fáceis de conseguir gratuitamente na internet, mas evidentemente esses equipamentos apresentam limitações bastante óbvias a esse respeito. Os dispositivos de leituras de e-books (livros digitais) são dispositivos de leitura de e-books específicos! Nesse momento você deve estar se perguntando: Mas como assim? Então vamos deixar as coisas claras:
O PDF, formato desenvolvido pela Adobe System, apesar de ser um “Portable Document Format” (documento de formato portátil) tem um sistema de funcionamento diferente dos e-books nativos de cada dispositivo de leitura. Digamos que esses aparelhos aceitam o PDF para “quebrar um galho” devido a sua grande popularidade, não muito além disso, portanto a exibição de um PDF em um e-reader geralmente é bem ruim e ainda que seja feito pelo aparelho não é muito interessante para a leitura de livros inteiros.
 Em praticamente todos os leitores observa-se uma lista bastante extensa de formatos de arquivos que os equipamentos aceitam, mas aceitar não é o mesmo que apresenta-lo de forma adequada. Peguemos como exemplo o Kindle da Amazon, um dos mais famosos e que basicamente criou e popularizou o conceito e a tecnologia e-reader. Seu formato nativo é o AZW, praticamente todos – senão todos – os e-books legais e originais distribuídos pela Amazon tem esse formato, que por sua vez se adequa tão perfeitamente ao equipamento que supera muito os livros físicos em termos de praticidade e recursos nativos, como tradutor, dicionário instantâneo, regulador de preferência de tamanho de letra e margens, exibição do tempo médio de leitura do capítulo e do livro inteiro, anotações, aquisição de livros a partir do aparelho e download automático do livro escolhido para o aparelho sem necessidade de ligá-lo com cabos a nenhum computador, etc. O Kindle, e-reader do nosso exemplo, também se adequa perfeitamente a outros formatos como MOBI, HTML, e TXT, oferecendo os mesmo recursos em todos esses formatos citados, e os apresentando de forma bastante adequada à leitura.
Mas não se iluda esses dispositivos, não apenas o Kindle, não foram feitos para findar todos os seus problemas, ou disponibilizar uma infinidade de possibilidades para quem não quer gastar nada com livros e está afim de entupir o aparelho com quantos PDFs baixados puder dando aquele “jeitinho brasileiro” colocando no pobre coitado uma infinidade de arquivos que nem sempre são confiáveis, tanto no que se refere a conteúdo, quanto no que se refere a integridade de arquivos. Vivemos num mundo capitalista e convenhamos, vender livros digitais reconhecidos em leitores digitais também vendidos pela empresa em questão é uma boa forma de lucrar alto e manter a distribuição de direitos aos respectivos autores, ainda mais quando se concentra o maior público especializado do mundo em um dado site no intuito de fazer justamente isso, vender livros.
Nesse caso podemos observar que para as corporações o e-reader torna-se apenas o meio que facilita o fim, a venda de e-books. Para os usuários este aparato tecnológico também deve ser julgado como um meio para a finalidade de consumir e ler conteúdos que se adaptem aos recursos específicos do aparelho. Há no mercado programas de computador que são capazes de realizar a conversão de arquivos para os formatos aceitos pelos e-readers, mas nem sempre o resultado é o esperado, principalmente quando o arquivo a ser convertido é PDF originado do scanner de páginas que em suma são compiladas no formato de imagem. Portanto, se sua finalidade está voltada para a exibição de conteúdos que vão muito além dos já citados até aqui, ou exclusivamente PDF, não julgo ser uma boa opção, já que obviamente o equipamento não foi desenvolvido para isso.

Enfim... Os e-readers infelizmente não são a pedra da salvação para os indivíduos que não querem pagar nada pelas obras, são mais uma alternativa para o CONSUMO de livros, que quando feito de acordo com o especificado e comercializado pelo fabricante apresentam desempenho satisfatório além de valores bastante acessíveis. Para você ler de forma eficiente seus incontáveis PDFs recomenda-se os computadores ou tablets (mas esteja disposto a arcar com a limitação da bateria), o que não ocorre nos e-readers. Por fim, se você não gosta de ler no computador ou tablet, não está nem um pouco afim de comprar livros digitais ou fazer conversões de formato de arquivos em alguns programas para não arcar com o custo dos e-books a opção é: Permaneça com seu livro físico, que é atemporal e com certeza perdurará ao longo dos anos.  



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Adeus Vôzinho...

Há quem não suporte mensagens póstumas, e eu sou uma dessas, mas o que se há de fazer quando escrever é a única forma de externalizar todo sofrimento entalado no peito e banhado com o salgado das lágrimas?
Somos uma família enorme, com direito a papais, mamães, titias, titios, irmãos, irmãs, primos, primas, vovó, vovô, bisavó e bisavô, e acima de tudo unida. Não, não uma união forçada por reuniões chatas e “obrigatórias” que algumas famílias costumam realizar. Uma união que transcende o próprio significado mesmo quando há divergências de opiniões e interesses, pois estamos falando “dos meus”. É visceral! Cultivada com muito carinho ao longo de nossa própria constituição como pessoas, e natural como respirar. Somos alegres e garridos, preocupados e calorosos, passionais e perseverantes... E nunca antes, eu, enquanto membro desta família, havia sofrido nada parecido, nenhuma perda de tamanha proporção.
Nessa quarta-feira calamos, e unidos na dor nos despedimos do meu vozinho Ademar, o patriarca amado, corado e resmungão; nos despedimos dos beliscões nas coxas, das confusões de chamamento: “Tainara, não, Taise, não, Taiane, não... Carmen Lúcia Piquena!”, do célebre e respeitoso “Bença vô!” e sua leve levantadinha na aba do boné em resposta: “Deus te abençoe!”, de suas adivinhas, das jogatinas de dominó  e cafezinho da tarde em sua presença, do seu riso franco... Enfim.

Nesse momento, a efemeridade de algumas preocupações cotidianas revela-se tão proeminente, que me sinto até culpada por tê-las. Nesse momento, ainda que unidos em espírito, a dor é absolutamente solitária, peculiar, e devastadora. Cada um a seu modo sentiu a partida. E finalmente hoje,quinta-feira, dia marcado pelo início da copa do mundo no Brasil, boa parte do país estava em festa, e foi nesse clima, um misto do negro ao verde e amarelo das ruas, que rumamos pesarosos e silenciosos ao sepulcro do meu vozinho. Muita, MUITA gente nos acompanhou nesse que, sem sombra de dúvidas, foi o trajeto mais difícil de nossas casas até a pracinha, e por fim dissemos “Adeus” ao meu vozinho, que a exemplo dos carnavais, nos deixou em uma quarta feira cinza.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A Ignorância, a violência e a "justiça" sem lei

Medo. É dessa forma que posso definir o estado de espírito de muitos Brasileiros atualmente. Todos os dias ao ligarmos a televisão ou abrirmos os jornais podemos acompanhar rastros de sangue, ódio e ignorância. Nunca, desde que me entendo por gente, foi tão comum o linchamento em praça pública, o “justiçamento por conta própria”, sem que sequer sejam avaliados fatos, provas, ou quaisquer que sejam os dados relevantes durante essas “inquisições” populares. Não. Bastam acusações, ignorância, ódio, violência e determinação para que qualquer um, repito: QUALQUER UM possa vir a ser vítima desta barbárie.
O caso mais recente, o linchamento de Fabiane Maria, acusada injustamente em uma página do facebook de sequestrar e utilizar crianças em rituais satânicos, a levou a morte. O fato é chocante não só pela sua boçalidade intrínseca, choca também pelo que pode-se inferir ser uma execrável tendência do brasileiro à fofoca, à disseminação irracional e infundada de factoides escusando a verificação e confiabilidade das fontes, bem como à intolerância e ódio igualmente infundados.
 Mediante a todas as recentes notícias de violência, me vem à mente, quase que instantaneamente, a história do livro de Eric Arthur Blair mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell, “1984”. Nele o autor descreve uma sociedade controlada pelo medo, onde mesmo a realidade é manipulável, não a realidade propriamente dita, mas como percebida pelos indivíduos, que por sua vez (em sua maioria) “engolem” o que lhes é passado através da “tele-tela” sem se importar com a coerência, cronologia ou veracidade, pois a tele-tela difunde uma “realidade” ditada pelo “Grande Irmão”, e os indivíduos por sua vez  concebem “o real” por meio dela. 
Salvas as devidas proporções, não há como não fazermos relações entre os ocorridos recentes e a obra escrita no ano de 1948, principalmente no que tange ao medo, a manipulação e até mesmo criação de “notícias” que por sua vez são largamente aceitas pelas massas que passam a tê-las como “verdade”. Esses excessos de indignação, dignos da idade média, que infelizmente vemos estampar nossos jornais atualmente, me remetem ao que no livro é chamado de “minutos de ódio”, onde toda a raiva, indignação, violência, etc, são canalizados a um único personagem, o “Goldstein. Basicamente é isto que acontece, toma-se conhecimento do ocorrido através de uma única luz, sem que as origens e/ou causas motivadoras sejam levadas em consideração. Hoje, ouso dizer, que os bandidos no Brasil estão na posição do “Goldstein”, ninguém se importa com sua história ou quais mazelas sociais o levaram a ser um marginal, nem se são gente. Se não estão de acordo com a lei, estão sujeitos ao “minuto de fúria popular”. 
No livro, assim como “Goldstein”, co-fundador do partido do “Grande Irmão” foi largamente rejeitado sem que os indivíduos tomassem conhecimento dos reais motivos, as pessoas hoje cada vez mais alimentam um ódio irracional e “contagioso” sem olhar em volta, sem perceber o ambiente em que vivem, direcionando sua revolta aos “bodes expiatórios” frutos das diversas desigualdades sociais enquanto engolem informações mastigadas para não darem-se o trabalho de pensar, avaliar e ponderar.
Pois bem, colhe-se hoje no país, os prejuízos oriundos de negligências históricas, e que vieram explodir com toda força nos noticiários, e nas nossas caras indiferentes (até então). Para frente? Espera-se ao menos que se pense não somente em paliativos, mas principalmente efetivamente e em longo prazo ao serem tomadas providências, caso contrário poderemos estar seguindo uma perigosa trilha, até então descrita somente na história e na ficção.