domingo, 22 de fevereiro de 2015

Cheios de Vazio


Entre sorrisos arquitetados, e poses planejadas, entre uma selfie e outra vai sendo construída a imagem do ideal, com sua beleza montada, frases motivacionais e a exposição contínua de todos os corriqueiros eventos do dia-a-dia. Passa-se tanto tempo conectado, fotografando, editando, compartilhando que a essência de diversos momentos da vida é suprimida em detrimento dessa conexão constante e da contínua construção da imagem virtual enquanto o outro - amigos, filhos, companheiros - vão ganhando aos poucos um papel de figuração em fotos, postagens e na vida.
Vamos trocando encontros por reuniões no skype e as valorosas conversas despretensiosas regadas a álcool e exasperações por chats e emoticons. Ahh como é cansativo forjar essa imagem perfeita cuja recompensa exclusiva é um somatório de “likes”! Como é decepcionante encontrar uma figurinha “Cool” e em menos de 15min de conversa descobrir que aquele ser se resume a um inconsciente replicador de conteúdo mastigado via compartilhamento. Como é irritante estar com gente que mesmo nas horas de folga não desconecta, não se integra de fato e se mantém “ali” em corpo mas com a mente e a atenção no grupo do WhatsApp do trabalho.
Passamos a um estado de latência, dormência e por fim insensibilidade. Não ligamos, ou melhor, não percebemos se há gente (de verdade) a nossa volta. Não escutamos quando somos questionados ou quando simplesmente nos cumprimentam com um caloroso “bom dia!”. Não damos importância se a casa está pegando fogo (a não ser que essa possa ser fotografada e compartilhada com uma intragável “Hashtag” #PartiuSeiláoque). Vamos rindo sozinhos, nos descontraindo com memes, e perdendo a hora de pegar o filho na escola...

Em contrapartida nada nos consola. Nada nos preenche. Nada nos completa. Vai se abrindo um buraco no peito, uma fenda na alma, e uma falha no caráter. Não vemos maldade nesse tipo de comportamento, mas não conseguimos explicar a infelicidade decorrente deste. É como a dependência de drogas, só nos identificamos como “zumbis tecnológicos” em casos extremos... Ademais seguimos, solitários, infelizes, desconectados de amigos e família, incapazes de manter um diálogo (cara-a-cara) relevante, insensíveis e virtualmente perfeitos.