Medo. É
dessa forma que posso definir o estado de espírito de muitos Brasileiros
atualmente. Todos os dias ao ligarmos a televisão ou abrirmos os jornais
podemos acompanhar rastros de sangue, ódio e ignorância. Nunca, desde que me
entendo por gente, foi tão comum o linchamento em praça pública, o
“justiçamento por conta própria”, sem que sequer sejam avaliados fatos, provas,
ou quaisquer que sejam os dados relevantes durante essas “inquisições”
populares. Não. Bastam acusações, ignorância, ódio, violência e determinação
para que qualquer um, repito: QUALQUER UM possa vir a ser vítima desta barbárie.
O caso
mais recente, o linchamento de Fabiane Maria, acusada injustamente em uma página do facebook
de sequestrar e utilizar crianças em rituais satânicos, a levou a morte. O fato
é chocante não só pela sua boçalidade intrínseca, choca também pelo que pode-se
inferir ser uma execrável tendência do brasileiro à fofoca, à disseminação
irracional e infundada de factoides escusando a verificação e confiabilidade
das fontes, bem como à intolerância e ódio igualmente infundados.

Salvas as devidas proporções, não há como não fazermos
relações entre os ocorridos recentes e a obra escrita no ano de 1948,
principalmente no que tange ao medo, a manipulação e até mesmo criação de
“notícias” que por sua vez são largamente aceitas pelas massas que passam a
tê-las como “verdade”. Esses excessos de indignação, dignos da idade média, que
infelizmente vemos estampar nossos jornais atualmente, me remetem ao que no
livro é chamado de “minutos de ódio”, onde toda a raiva, indignação, violência,
etc, são canalizados a um único personagem, o “Goldstein”. Basicamente é isto que acontece, toma-se conhecimento do
ocorrido através de uma única luz, sem que as origens e/ou causas motivadoras
sejam levadas em consideração. Hoje, ouso dizer, que os bandidos no Brasil
estão na posição do “Goldstein”, ninguém se importa com sua história ou quais
mazelas sociais o levaram a ser um marginal, nem se são gente. Se não estão de
acordo com a lei, estão sujeitos ao “minuto de fúria popular”.
No livro, assim como “Goldstein”, co-fundador do partido do
“Grande Irmão” foi largamente rejeitado sem que os indivíduos tomassem
conhecimento dos reais motivos, as pessoas hoje cada vez mais alimentam um ódio
irracional e “contagioso” sem olhar em volta, sem perceber o ambiente em que
vivem, direcionando sua revolta aos “bodes expiatórios” frutos das diversas
desigualdades sociais enquanto engolem informações mastigadas para não darem-se o trabalho de pensar, avaliar e ponderar.
Pois bem, colhe-se hoje no país, os prejuízos oriundos de
negligências históricas, e que vieram explodir com toda força nos noticiários,
e nas nossas caras indiferentes (até então). Para frente? Espera-se ao
menos que se pense não somente em paliativos, mas principalmente efetivamente e
em longo prazo ao serem tomadas providências, caso contrário poderemos estar
seguindo uma perigosa trilha, até então descrita somente na história e na
ficção.
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